Dois pilares para uma reunião de pais empática

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A empatia é a melhor ponte a ser construída na interação com as famílias e o momento da reunião individual de pais é uma peça-chave nessa construção. No entanto, uma relação empática depende de dois fatores determinantes: autoconhecimento e diálogo respeitoso.

Começamos então pelo autoconhecimento. De sua parte, você precisa entender quais são os sentimentos que a reunião desperta, como você se comporta diante deles e como contorná-los, se necessário. 

Você se sente insegura? Como isso se manifesta? Talvez você fique ansiosa, tenha dificuldade para organizar sua fala. Neste caso, a preparação é essencial e neste texto tem um ótimo guia. 

Talvez você se sinta confrontada ou questionada. Aí é preciso racionalizar que você está, de fato, prestando um serviço e é responsável por boa parte da qualidade deste serviço, então é natural que seja cobrada e isso não é um ataque pessoal. Tenha suas anotações para apoiá-la, tenha uma fala que comprove suas alegações. Talvez você se sinta desconfortável nessa relação com a família, especialmente com os homens, e isso pode ter vindo lá da dinâmica da sua própria família, e, mais uma vez, o autoconhecimento é o que vai trazer respostas. 

Um outro fruto do autoconhecimento é identificar e separar aquilo que reflete seus valores pessoais do que impacta o desenvolvimento e aprendizagem da criança – que é a esfera do seu trabalho e da reunião.

Tenha cuidado para não trazer críticas sobre o modo como uma família vive ou se organiza com base nas suas crenças. A mãe trabalha muito e quase não fica em casa ou a mãe não trabalha e fica o dia inteiro na academia. São informações isoladas sem relação com os processos de aprendizagem da criança e não estão dentro da sua esfera de atuação – você pode ter sua opinião sobre esses cenários, que deve ficar reservada para você e para as fofoquinhas de ética questionável da sala dos professores, já que nada disso deve entrar na reunião. 

O autoconhecimento precisa ser tão vivo para a professora que criamos um curso livre que tem esse processo como um dos temas centrais. No entanto, a relação com as famílias se mostra muito assimétrica no momento da reunião, já que o movimento de autoconhecimento é esperado apenas de um dos lados. Você conduz a reunião com uma fala estruturada, com registros que apoiam sua fala e com a terapia em dia – kkkkk – mas as famílias não! E aí está uma possibilidade de, por mais que você seja profissional, ainda assim receber uma devolutiva grosseira, afrontosa, desafiadora ou defensiva. 

Neste caso, é preciso mobilizar toda sua empatia e não entrar em um jogo de forças. Essas respostas podem vir da família e sem que tenham relação com seu trabalho, então não as leve para o lado pessoal. A pressão de criar filhos perfeitos é real, a vida instagramável de crianças tocando piano enquanto recitam a tabuada depois de ter preparado um suflê aos dois anos de idade está aí para criar padrões impossíveis de serem alcançados e a culpa materna é universal e avassaladora. 

Talvez, quando você disser qualquer coisa diferente de “seu filho é perfeito e o melhor em tudo”, isso traga imediatamente a voz da avó que compara a criança com o primo, a vergonha por trabalhar demais enquanto a irmã faz marmita-bento com arroz em forma de panda para a sobrinha. Isso no melhor cenário – que é aquele em que a família está se responsabilizando pelo desenvolvimento da criança. Por isso, calma! Nem sempre (quase nunca!), uma reação negativa da família tem a ver pessoalmente com você, não compre a reação e não leve para casa.

De outro lado, também temos a família-cliente, aquela que tem um entendimento de que está pagando por um produto e portanto quer recebê-lo. Geralmente, esta atitude vem com um não envolvimento ou desinteresse pelas questões que você está trazendo. Respire! Essa crença da família não vai mudar com uma fala sua, por mais afiada, propositiva ou assertiva que seja. A pergunta aqui é: o que essa postura da família desperta em você? O que quer que seja, não aja com base no que você sente: siga seu roteiro, coloque os pontos com segurança, registre por escrito o que foi dito e siga fazendo seu trabalho com a criança em sala de aula. (Sim, muuuuito difícil e você talvez demore para chegar neste ponto de maturidade profissional, mas seguimos com a criança no centro do trabalho e com o compromisso com o bem-estar e o desenvolvimento delas).

O segundo pilar de uma reunião empática é o diálogo.

Aqui, mais uma vez, a relação é assimétrica: você conduz a reunião e tem um roteiro a seguir. Isso quer dizer que você tem a possibilidade, e é muito recomendado que faça, de falar exatamente o que quer dizer. Como assim? Você quer dizer que a criança está mordendo? Diga: durante este semestre, X mordeu um colega em 15 ocasiões e eu registrei que a maior parte destes episódios aconteceu durante um conflito por brinquedos. A intervenção que fizemos foi criar combinados coletivos de partilha, que retomamos individualmente com ele sempre que usamos brinquedos de forma coletiva etc. e está dito. Seja sempre objetiva e breve, traga exemplos do que você está dizendo. 

A família, por outro lado, provavelmente não vai ter uma fala preparada, e isso faz com que nem sempre o que está sendo dito esteja claro. Fazer perguntas é uma boa estratégia e repetir de volta o que você ouviu também. Escutar é uma habilidade a ser desenvolvida e você vai ficar melhor a cada ciclo de reuniões para ouvir o que não está sendo dito claramente pelas famílias. 

Ao ouvir, mais uma vez, evite que seus valores pessoais se tornem ruídos. Uma vez, uma mãe disse na reunião “eu não aguento mais meu filho“. Essa fala partiu meu coração em mil pedacinhos e eu quase me desconectei completamente desta mãe, mas depois de alguns minutos eu percebi que ela não conseguia fisicamente carregar a criança, pois comentou que estava ainda tomando muitos remédios por conta de uma cirurgia no ombro. Esse é um exemplo de como algo que eu acreditava “como assim, uma mãe não aguenta um filho? Que absurdo!” quase impossibilitou a construção de uma relação com a família. 

Além disso, ao ouvir a fala daquela mãe, eu não tentei perguntar ou entender melhor, eu apenas travei e entrei no julgamento. Então, sempre que possível, pergunte ou repita o que foi dito para garantir que você ouviu corretamente, não julgue o que está sendo trazido e absorva da conversa aquilo que você pode fazer pela criança dentro da sua possibilidade de atuação.  

Com seu autoconhecimento em dia e com um esforço de manter um diálogo respeitoso, é bem grande a chance de construir uma boa relação com a família e ter uma reunião empática. Estes elementos são boas fundações, e trazê-los para o racional, para que você possa elaborá-los e fazer um esforço consciente nesta direção, vai tornar sua prática muito mais acolhedora para as famílias.

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