Quantas vezes você recebeu um relatório em que a criança de 5 anos – que frequentou a mesma escola a vida toda – está com o mesmo nível de inglês de quando ela estava com 3 anos? Pelo menos, é o que parece nos relatórios. Porque nesses documentos, na parte da língua adicional, são idênticas as descrições, com os dois relatórios da criança assim: “a criança utiliza a língua adicional quando solicitado” ou com um “x” na caixa de “consegue se expressar em inglês”.
Além disso, como você sabe que a criança avançou na aprendizagem da língua inglesa? Se, ao fazer uma escolha do que incluir no relatório, professoras de anos diferentes colocam a mesma fala da criança “the helper is wearing yellow” para exemplificar uma frase?
E nesse contexto, estamos imaginando que havia tempo de a coordenadora analisar o conteúdo de dois relatórios de uma criança. Agora, você faz ou tem tempo de fazer isso para todas as crianças em todos os objetivos de aprendizagem em todas as áreas de desenvolvimento? E o que fazer quando você é coordenadora e tem entre 100-500 crianças para acompanhar o desenvolvimento global ano após ano?


Mission Impossible, né?
Como podemos mensurar a evolução dessas crianças sem o olhar do processo todo, acompanhando cada criança nas várias áreas de desenvolvimento? De que forma avançamos o aprendizado processual das crianças sem esse olhar? Como identificamos as lacunas de formação de professoras sem essa análise? E de quem é esse trabalho na sua escola?
Na Educação Infantil falta um olhar sistemático do acompanhamento global de cada criança, ano após ano, por parte da gestão da escola. O mercado é carente de ferramentas para lidar com as especificidades da idade e a coordenadora precisa de muito tempo para criar e implementar um sistema para supervisionar o desenvolvimento das crianças.
O ideal é ter um sistema ou tabela que mostre a progressão de cada criança dentro dos learning outcomes estabelecidos pela escola dentro das fases de desenvolvimento geral da criança, além das fases de desenvolvimento da língua adicional para cada ano escolar. Assim, isso garante uma visão geral da gestora para cada criança e mostra onde cada criança está precisando de um olhar específico.
Entretanto, como a elaboração dessa tabela demanda uma maturidade escolar bastante robusta, com consistência de trabalho e de pessoas na gestão, poucas escolas bilíngues atingem essa visão geral do desenvolvimento das crianças na infância e isso tem repercussão no ensino fundamental. Se você trabalha em uma escola que está no ponto de começar a pensar nesse sistema, entre em contato conosco e comece uma consultoria para sua escola.
Entretanto, se você está na posição da maior parte das escolas – em crescimento rápido e com muitas mudanças de equipe e gestão – vamos dar algumas dicas de como começar a pensar num alinhamento entre os anos escolares já!
- Termine ou comece o ano garantindo duas reuniões de passagem entre a equipe de professoras do ano atual e a do próximo ano.
A primeira reunião deve ser sobre o processo do grupo, seu trabalho e os procedimentos já conquistados ao longo do ano e no que a próxima professora pode dar continuidade. Também é interessante informar quais são as lacunas no aprendizado do grupo, o que gostaria de ter trabalhado mais e algumas características especiais do grupo – sempre com cuidado para não rotular. Peça às professoras usarem exemplos e registros que mostrem evidências do que estão falando.
A segunda reunião é para falar das crianças individualmente, sobre as conquistas de cada um, onde estão nas ZDPs deles nas áreas já identificadas, alergias e questões de saúde ou familiar, e algumas estratégias para lidar com o comportamento dessa criança, tentando usar falas como “comigo, ela…” para mostrar que os comportamentos demonstrados durante o ano são o resultado de uma relação, que mudará e portanto possivelmente os comportamentos também com a próxima professora. Cuidado aqui para não rotular “ele é assim” e para não usar preconceitos com a família.
Existem escolas que fazem essa reunião só depois do primeiro mês de aula para a professora nova já ter uma perspectiva e relação própria sem a possibilidade de criar um preconceito da turma ou das crianças. Temos prós e contras dos dois jeitos, o importante é que essas reuniões aconteçam!
- Dê acesso aos relatórios antigos e dê tempo para as professoras se atualizarem sobre essas escritas valiosas.
Embora o principal leitor dos relatórios seja a família, essa ferramenta pode ser muito útil para a próxima professora e para ajudar no alinhamento de trabalho entre um ano e outro. Mas… a professora precisa de acesso e tempo para ler, com calma, anotando o que é relevante para ela, podendo conversar com a professora antiga sobre o que ela notou, tirando outras dúvidas, para receber bem e de maneira preparada o novo grupo de crianças.
Quantas vezes os relatórios estão fora do alcance das próprias professoras? Trancados em armários, com acesso restrito dos funcionários e longe das pessoas que têm mais poder para avançar ou mudar a realidade do que está descrito neles. Afinal, será que algo mudaria na escrita das professoras se elas soubessem que colegas de trabalho seriam leitores também?
- Peer observation moments.
Se você já sabe a distribuição de salas e professoras para o próximo ano ou se alguém vai sair de licença ou outra ausência programada, é possível fazer um rodízio entre suas professoras para que, no último mês de aula, cada uma visite e observe (sem ajudar mesmo) o grupo que ela receberá no próximo ano. Se Você conseguir fazer pelo menos duas vezes antes de concluir o ano, esses são momentos valiosos de perceber e planejar ações para o próximo ano. É possível VER o que a professora faz em sala de aula, a capacidade linguística do grupo após ficar com uma professora por um ano, além de outras pérolas fantásticas durante a observação. É mais uma chance de começar um alinhamento de um ano para o outro.
- Entregar trabalhos pedagogicamente chave para a próxima professora e não para as famílias.
Isso é bastante interessante, pois costumamos entregar todos os trabalhos das crianças para suas famílias ou usar em livros e portfólios. Entretanto, alguns trabalhos podem ser muito interessantes para guardar, ou pelo menos copiar, e entregar para a próxima professora. Por exemplo, o trabalho com a figura humana, sondagens de escrita final das crianças de 5-6 anos, imagens do desenvolvimento da pega do lápis, vídeos de discussões de grupo para mostrar o nível de abstração cognitiva e possibilidade linguística conquistada, livros de registros de jogos ou listas criadas pelas crianças coletivamente em sala, e muitos outros.
Além disso, que tal entregar um livro querido da turma para a próxima professora e algo criado em grupo ou estimado para a turma para que no ano seguinte eles já sintam aquele cuidado extra? Todo alinhamento é bem-vindo! - Compartilhar os trabalhos e projetos realizados dentro da sala de aula durante o ano.
Você não precisa esperar até o final ou o começo do ano para fomentar conversas entre as professoras. Faça um alinhamento progressivo, formal ou informal, de projetos e trabalhos que estão acontecendo ao longo do ano. Se você tiver uma sala de professoras que seja bastante utilizada ou outro espaço propício para reunir as professoras (onde fica a cafeteira kkkk), coloque fotos, falas ou informações sobre os temas e conteúdos ou curiosidades sobre o que está acontecendo dentro de cada sala de aula. Você como coordenadora tem essa visão – a bird’s eye view – de tudo o que está acontecendo e você pode mostrar essa linda colcha de retalhos para que elas tracem e costurem relações entre elas de maneira informal.
Outra ideia, mais formal, é agendar uma reunião pedagógica a cada trimestre ou semestre para que cada professora conte algo que o grupo dela conquistou ou algo que ela acha pertinente a ser compartilhado com o grupo de professoras. Assim, você garante que todos saibam do que está acontecendo e fomenta esse alinhamento entre equipe, mostrando a importância desse assunto para a escola.
E isso também pode se tornar um e-mail mensal da coordenação, contando as novidades do segmento (e se você for diretora – reunindo esses e-mails dos segmentos e mandando para a escola toda) para espalhar os movimentos que estão acontecendo na escola.
Now it’s up to you, qual é o seu próximo passo para uma escola mais alinhada e pensante no processo de aprendizagem global das crianças?

