Vamos imaginar que você tenha voltado para a faculdade. Você tem uma aula de matemática e uma aula de literatura francesa. Na aula de matemática, a professora traz uma leitura de Blaise Pascal sobre a teoria de probabilidade. Beleza, você lê e aprende sobre esse conceito e aula acaba. Agora, é hora da literatura francesa, e, para sua surpresa, o professor sugere a mesma leitura, e, por mais uma hora, você precisa ler o mesmo texto, agora em francês.
Seria tão bom se os professores se comunicassem, né? Foi legal a primeira vez (talvez, né?), mas a segunda? No mesmo dia? ZZzzzz….
É claro que, na faculdade, essa comunicação entre professoras é mais difícil, pois elas têm muita autonomia sobre suas aulas e nem sempre compartilham os mesmos alunos – diferente de duas professoras polivalentes numa escola ou programa bilíngue típico de Educação Infantil ou anos iniciais.
Agora no nosso contexto:
Sem um alinhamento de currículo, as duas professoras podem sentir que: ou cada uma tem que dar conta de todos os objetivos anuais sozinhas para “garantir” a aprendizagem, ou cada uma faz o que pode porque sabem que as crianças também têm outras aulas com outra professora.
De um lado, temos uma sobrecarga tanto das professoras quanto das crianças – com uma duplicidade gigantesca de trabalho – crianças jogando bingo duas vezes no mesmo dia para trabalhar reconhecimento de números nas duas línguas ou as duas trabalhando a decodificação nas duas línguas com sondagens – como no nosso exemplo da leitura de Pascal.
No outro lado, temos lacunas na aprendizagem das crianças, uma professora jogando a culpa pela falta na outra, ou nos comportamentos da própria turma, quando aparece uma grande brecha de entendimento ou habilidade com a turma toda.
Como a criança fica nessas duas situações? Péssima! A criança bilíngue é UMA. Portanto, o currículo deve ser estruturado em relação a essa criança única e não em relação às limitações de separação de tempo e espaços daquela criança pelos adultos.
A coordenação tem um grande papel nessa divisão e coesão do currículo – na verdade, um dos grandes papéis da coordenação pedagógica é exatamente este: o planejamento, alinhamento e adequação do currículo. Se ela não conseguir fazer esse trabalho – até pelas mil obrigações e papéis que ela precisa cumprir diariamente –, o trabalho em sala de aula sofrerá e as crianças também com as consequências dessa desorganização.
Criar learning outcomes pelos objetivos estabelecidos tanto na BNCC quanto os da escola local, dividir ou especificar de forma justa e equitativa os learning outcomes dependendo da turma e suas necessidades, dependendo da experiência das duas professoras e dependendo das condições linguísticas das crianças, é parte fundamental do trabalho anual e semestral da coordenação.
E não para por aí, não. Depois disso, um alinhamento de metodologias, propostas e planejamento semanal casado entre as duas professoras precisa ser feito e estabelecido para o desenvolvimento global das crianças na escola. Este deve ser o mantra: o aprendizado da criança no centro do planejamento, os adultos se ajustando à sua volta.
Para tanto, a direção precisa estabelecer um tempo – pago – que possibilite às duplas de professoras trocar boas práticas, futuros planejamentos e ideias, temas trabalhados, momentos de bridging com propostas elaborados conjuntamente – para não haver duplicidade de trabalho, garantindo que a criança bilíngue seja respeitada inteiramente como ela é: UM único ser.
Se precisar de ajuda para alinhar seu currículo de forma coesa e que respeite ambas as línguas, entre em contato!

