Behind Behavior: o que os seus alunos estão tentando mostrar através do comportamento?

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Autora convidada: Grazi França @myteacherplace

Lidar com crianças em nossas aulas envolve muitas coisas para pensar. Raramente pensamos exclusivamente em ensinar o conteúdo. Em vez disso, geralmente temos em mente suas necessidades emocionais e, é claro, seu comportamento.

O que nós, educadores, precisamos entender e aprender é que por trás de cada comportamento há uma causa, e, se lidarmos apenas com o comportamento em si e não com sua causa, os alunos continuarão agindo da mesma maneira e o professor será “vítima do comportamento inconsciente do aluno” (DREIKURS, 1957, p. 89).

Neste artigo, vou apresentar a vocês quatro personagens e seus “icebergs” de comportamento. Em outras palavras, vou ensinar como identificar as necessidades não atendidas que estão por trás das atitudes dos alunos, além de listar algumas ações que podem ser implementadas para minimizar comportamentos inadequados.

Kate

Os esforços são enormes, mas nenhum professor consegue engajar Kate. Ela é uma aluna apática e passiva, que não se esforça muito nem se desafia. Muitas vezes, ela não inicia as atividades por conta própria e, quando o faz, é fácil vê-la desistindo no meio do caminho.

Esse é o comportamento que vemos na superfície do iceberg, mas por baixo estão as crenças de Kate. Ela é uma garota que não consegue enxergar suas próprias qualidades. Não importa o que seus pais, professores ou amigos digam. Ela se sente deslocada, acha que nunca terá sucesso, não se sente boa o suficiente.

Esse objetivo equivocado de comportamento é o que chamamos de inadequação assumida. Alunos que se enquadram nessa categoria frequentemente pensam em desistir (ou nem mesmo começar as tarefas) porque acreditam que não têm as habilidades necessárias para realizá-las. Eles também relatam não se sentirem importantes. Mas o que esses alunos estão tentando nos dizer é: não desista de mim! Mostre-me um pequeno passo!

O que o professor pode fazer?

  • Demonstrar confiança no aluno;
  • Elogiar as tentativas positivas;
  • Focar e mostrar ao aluno suas habilidades;
  • Dividir tarefas grandes em pequenos passos;
  • Pedir que ensinem algo a outros alunos;
  • Mostrar ao aluno que você também tem suas fraquezas.

Randall

Randall é o melhor aluno da turma. E isso pode não parecer ruim a principio, mas vamos dar uma olhada mais de perto. Ele sempre quer estar no controle de tudo porque isso lhe dá uma sensação de poder. É por isso que ele estuda muito e tira boas notas, afinal, seus estudos e notas estão entre as poucas coisas que ele pode controlar.

Os professores de Randall encontram certa resistência dele quando ele precisa fazer algo fora de sua zona de conforto. Outra dificuldade é fazer com que Randall aceite certas regras impostas a ele.

Alunos como Randall acreditam que são importantes apenas quando fazem o que querem. Esse objetivo equivocado de comportamento é chamado de poder mal direcionado.

Alunos com esse tipo de comportamento têm dificuldade em aceitar ordens porque só se sentem aceitos e confortáveis quando estão no comando. É comum o professor se sentir desafiado e ameaçado. A mensagem que nem esse aluno sabe que quer transmitir é: permita que eu ajude! Dê-me escolhas!

O que o professor pode fazer?

  • Oferecer escolhas limitadas;
  • Pedir ajuda ao aluno;
  • Envolvê-lo na definição de regras;
  • Evitar conflitos;
  • Estabelecer limites explicando o motivo;
  • Atribuir a ele a responsabilidade por uma tarefa ou projeto;
  • Ouvir ativamente suas ideias.

Kevin

Kevin (sim, isso é uma referência à série americana “This Is Us”) é aquele aluno que sempre quer estar no centro das atenções. Muitas vezes, ele tende a ser um pouco irritante, falando alto, interrompendo os colegas de classe ou o professor, buscando constantemente atenção…

O problema é que, ao confrontar esse tipo de comportamento, o professor tende a responder da maneira que o aluno deseja: dando-lhe atenção. Isso pode ser feito repetindo o nome do aluno ou olhando para ele várias vezes, por exemplo. Mas lembre que o que o aluno quer nem sempre é o que ele precisa!

Ao olharmos além da superfície do iceberg de comportamento de Kevin, o que não vemos é a crença de que ele só será aceito e pertencerá se receber tratamento especial. O que ele e seus professores podem não saber sobre esse tipo de comportamento é que uma das coisas que Kevin mais deseja é se sentir útil. Esse comportamento equivocado é conhecido como atenção indevida.

O que o professor pode fazer?

  • Evitar tratamento especial;
  • Redirecionar o aluno para que ele se sinta útil;
  • Planejar tempo individual com esse aluno;
  • Ignorar o comportamento com um sinal não verbal.

Tess

Tess é a típica aluna rebelde e agressiva. Às vezes, ela responde ofensivamente aos seus professores e colegas de classe. Tess sempre parece estressada e infeliz com a vida. Seus professores têm dificuldade em alcançá-la, pois ela tende a ter um comportamento resistente e fechado.

Se olharmos mais profundamente para a parte inferior do iceberg de comportamento de Tess, veremos que essa agressividade é uma maneira de ela se proteger, de mostrar sua insegurança para os outros. “Quando os alunos se sentem magoados ou acreditam que as coisas não são justas, muitas vezes retaliam com comportamento ofensivo” (NELSEN e LOTT, 2019, p. 186).

Esse objetivo equivocado de comportamento é a vingança. Esses alunos acreditam que a melhor maneira de lidar com sua dor, frustrações e sentimentos de injustiça é machucando de volta.

O que o professor pode fazer?

  • Reconhecer e validar os sentimentos do aluno;
  • Evitar punição, pois isso só fará o aluno se sentir mais magoado;
  • Não machucar o aluno de volta;
  • Mostrar que você se importa;
  • Pedir desculpas se você o magoou.

Ao longo deste artigo, vimos os quatro objetivos equivocados de comportamento definidos por Rudolf Dreikurs: inadequação presumida, poder mal direcionado, atenção indevida e vingança. Além disso, listamos ações práticas sobre como lidar com as necessidades não atendidas.

É importante para os educadores sempre ter em mente que as crenças por trás do comportamento inadequado não devem ser vistas como uma desculpa, mas sim como uma forma mais eficaz de lidar com os desafios comportamentais presentes em nossas salas de aula.

Se você quiser estar cada vez mais por dentro de assuntos como esse, relacionados a disciplina positiva, me siga no Instagram @myteacherplace e fique de olho nas dicas e cursos que ofereço por lá! 

Um forte abraço,

Grazi França

Referências:

DREIKURS, Rudolf. Psychology in the Classroom. New York: Harper & Brothers, 1957.

NELSEN, Jane; LOTT, Lynn; GLENN, H. Stephen. Positive Discipline in the Classroom. 4 ed. São Paulo: Manole, 2017.

NELSEN, Jane; LOTT, Lynn; GLENN. Disciplina Positiva para adolescentes. 3 ed. São Paulo: Manole, 2019.


Uma educadora que sempre sonhou em trabalhar com educação. Sou professora de inglês e teacher trainer, graduada em Letras-Inglês e certificada por Cambridge (C2 Proficiency e Train the Trainer), parte do board do Young Learners and Teenagers SIG do BRAZTESOL.

Educadora Certificada em Disciplina Positiva pela PDA (Positive Discipline Association), acredito muito no poder do afeto na educação e vejo a Disciplina Positiva como uma abordagem que pode transformar a nossa prática. Tive a experiência de palestrar sobre o tópico em conferências nacionais e internacionais e escrever como coautora em três livros: Práticas de Inglês na Infância, Práticas de Inglês para Adolescentes e Educação Respeitosa em sala de aula. 

Criadora do perfil no Instagram @myteacherplace, onde falo sobre disciplina positiva, ensino afetivo e bem-estar docente.

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