A ansiedade de implementar a sistematização da leitura e escrita na segunda língua pode fazer com que as escolas se esqueçam de uma evidência que aparece de forma muito consistente nas pesquisas: a proficiência oral é preditora de sucesso para a aquisição do código escrito. Ou, em bom português: quanto melhor as crianças estiverem falando em inglês (não entendendo, FALANDO), mais facilmente elas serão alfabetizadas.
Quando a gente pensa em crianças monolíngues falantes de inglês, as habilidades preditoras de sucesso na alfabetização são:
- Print motivation: a criança se interessa pelos livros e gosta deles
- Print awareness: a criança nota o universo escrito a seu redor, sabe manipular um livro e sabe acompanhar a escrita enquanto alguém lê para ela
- Letter knowledge: diferencia símbolos de letras, sabe que letras representam sons, é capaz de corresponder a letra ao som comum ou principal que ela produz
- Vocabulary: compreende e utiliza as palavras de forma adequada pelo contexto para a faixa etária
- Phonological awareness: reconhece, isola e manipula os sons da língua oralmente
- Narrative skills: apresenta fala coerente capaz de ordenar eventos, fazer predições, conectar causa e consequência e contar histórias
Bem, esses são os preditores para uma criança MONOLÍNGUE em contexto monolíngue de língua inglesa.
Será que nossas crianças de 4, 5 ou 6 anos podem começar um programa de alfabetização pensado para crianças monolíngues?
As crianças da sua escola têm o mesmo vocabulário, capacidade narrativa e consciência fonológica de uma criança monolíngue da mesma idade?
Por isso defendemos o cuidado na hora de pensar o currículo e na adoção de um programa “importado”. Por mais que esse programa tenha muito sucesso ou seja “cientificamente comprovado”, será que ele não precisa de uma leitura crítica e adaptação antes de entrar na sua sala ou escola?
“Mas meus alunos aprendem!”, dizem algumas professoras. Sim, claro que aprendem! Você está destinando um grande tempo didático de forma intencional para essas práticas, certamente as crianças aprenderão. A questão aqui é mais profunda: será que este tempo não deveria estar dividido entre outras habilidades que vão construir uma base para a alfabetização? Será que um investimento maior na oralidade não traria os mesmos resultados, porém de forma muito mais rápida e efetiva? Qual é a porcentagem que você e a professora que divide o currículo gastam só com essa área de conhecimento? Enquanto focam nisso, qual está ficando de fora?
Essas são perguntas para as quais encontramos resposta no documento publicado pelo National Committee for Effective Literacy, que afirma:
“For dual language learners who are developing early literacy in English, the development of oral language and background knowledge in English is crucial to effective early literacy approaches, helping to connect the association of sounds and text with meaning. The repertoire of vocabulary that dual language learners develop as preschoolers is an important precursor to their development of reading skills and comprehension.”
Então, a sugestão aqui é tirar as crianças do papel e dos programas estruturados de phonics enquanto elas estão na Educação Infantil ou até que as crianças tenham uma fluência adequada em inglês (e primeiro e segundo anos?) e investir pesado na ampliação de vocabulário e habilidades narrativas, consciência fonológica, leitura e vínculo com os livros e histórias – e na produção oral na língua-alvo! Essas são as ações que irão tornar o processo de biletramento muito mais simples e eficiente nos anos seguintes.
Se você quer saber como trabalhar a oralidade de forma efetiva e eficiente em sala com as suas crianças, venha conferir o minicurso Get Children Talking: stages and strategies!

