Semana do planejamento e você e sua assistente cortando EVA? Dia das mães e você cortando papel? Festa junina, dia dos pais, semana da criança, Halloween? Você corre lá no Pinterest, vai olhar aquele PDF que você comprou em um perfil de Instagram, Twinkle, Teachers pay Teachers, dá um Google em “decoração kindergarten”? Mas você já se perguntou para quem?
Pois é, a gente vai chamar aqui de “Cultura EVA” (que foi um termo criado por Raquel Melo) tudo aquilo que são coisas prontas, modelos, worksheets, printables, tudo aquilo que a gente coloca na nossa prática que não tem nada a ver com as nossas crianças, mas que tem “cara de coisa de criança”. E já adianto: no bilíngue, isso está ainda mais acentuado, com todo o status que um bom material importado confere. Sabe aquela parede cheia de posters, sight words, feelings chart, voice thermometer, You Rock poster, You’re a Star poster, Golden Rules poster? Então, pois é! É exatamente disso que a gente está falando. Uma sala que podia ser para uma criança qualquer, mas não para a SUA criança!
Decorar uma sala com palhacinhos, borboletas ou dinossauros de EVA não é o que vai fazer com que as crianças se sintam parte daquele ambiente – ao contrário, a cada dia vemos mais escolas tentando se aproximar da estética de buffets ou de áreas de recreação de restaurantes.
Mas a escola não é um lugar de recreação feito por pessoas que têm uma visão super limitada da infância! O espaço que você tem nas suas paredes é precioso, e você pode transformá-lo em algo que traga pertencimento, acolhimento e intencionalidade pedagógica para as crianças!
Entrar em sala e poder ver como será o dia – a tão famosa rotina – é um ritual importante na Educação Infantil. Que tal usar fotos das próprias crianças executando os momentos da rotina? Uma foto delas lendo, lavando as mãos, comendo, pintando, brincando no parque. Imagina o trabalho incrível de língua que você pode fazer com essas fotos? Descrever o que estava acontecendo, como eles se sentiram, quem está naquela cena, quais os combinados daqueles momentos, quais as boas falas para aqueles momentos… isso é um super trabalho de pertencimento e autonomia aliado à expansão do repertório linguístico!


As paredes cheias de trabalhinhos e atividades padronizadas, em que todas as crianças precisam chegar ao mesmo resultado, muitas vezes seguindo um modelo dado pela professora também fazem parte da cultura do EVA. Iniciar ou intensificar um movimento de expor produções iniciadas e conduzidas pelas crianças, que valorizam seu processo ao invés de produto, é também quebrar com essa cultura. Process-based art é um tipo de convite que enriquece muito as possibilidades de língua! As crianças conseguem criar narrativas sobre suas produções, conseguem descrevê-las e conseguem apreciar as produções dos outros colegas também, ou seja, uma oportunidade riquíssima de colocar a língua em movimento em contexto real e significativo.
Quando a gente vai se distanciando da cultura do EVA, a gente também começa a perceber as paredes como um registro coletivo das aprendizagens e das perguntas levantadas pelas crianças. A intencionalidade atribuída ao ambiente deixa de ser “enfeitar” e passa a ser o environment as a teacher, ou seja, um ambiente educador e coconstruído.