Quais foram os caminhos que levaram você até a Educação Infantil bilíngue?
O que é preciso para tornar-se professora na Educação Infantil? Gostar de crianças? Ter paciência? Ser jovem e ter energia? Ser animada? Por que será tão raro ver uma professora de Educação Infantil com 50 anos de idade? Uma coordenadora uma vez disse a uma potencial professora numa entrevista de emprego: “Você é paciente, gosta de criança, tem energia? Me fala, o que diferencia você de uma recreadora de buffet infantil?”.
Talvez a resposta para essas perguntas esteja em algum lugar no imaginário coletivo de o que uma professora de bebês e crianças pequenas faz. De que a escola de verdade começa no Ensino Fundamental. E é por isso que é tão importante termos entendimento de quem é a professora de Educação Infantil e qual seu papel, principalmente, explicitar esse entendimento em nossas interações dentro da comunidade escolar.
A entrada na Educação Infantil se dá por várias formas. Então, agora, deixamos para vocês um convite para a reflexão: Como você chegou na Educação Infantil? Você fez uma escolha ou foi a vaga que apareceu? Você quer estar na Educação Infantil ou você vê seu trabalho como uma passagem, e quer um dia chegar no Ensino Fundamental? Você se enxerga como professora do infantil em 10/15/20 anos?
Notamos que, quase sempre, as professoras do infantil no Brasil são jovens, é extremamente raro encontrar uma professora com 10, 15 anos de experiência. Pensando que o curso de Pedagogia passou a exigir a escolha do segmento de atuação apenas recentemente, podemos afirmar que somos a primeira geração de professoras que optaram já no curso de graduação pela ênfase em educação básica.
Somos a primeira geração de professoras que, coletivamente, escolheu estar neste segmento e reconhece sua potência e importância para a formação da criança. Falar sobre educação de zero a três anos é tão recente quanto revolucionário. Lutar para preservar a Educação Infantil de quatro a seis também, para que ela não ocupe um lugar de preparo para o Ensino Fundamental.
Somando-se ao lugar de educadora infantil, vem a questão do bilinguismo. Você é uma das professoras que se formou em Letras e entrou na Educação Infantil por acaso? O quanto você escolheu e se preparou para demandas específicas da primeira infância? Você é uma
pedagoga que se aprofundou na aquisição de língua adicional? Como você ocupa e constrói seu papel de educadora bilíngue em seu cotidiano?
Vamos deixar um trecho escrito por Malaguzzi sobre quem é a professora do infantil:
“O profissional que trabalha com a primeira infância mobiliza as competências de construção de significado das crianças, oferecendo-se como um recurso ao qual elas podem e querem recorrer, organizando o espaço, os materiais e as situações para proporcionar novas oportunidades e escolhas para a aprendizagem, ajudando as crianças a explorar as muitas linguagens diferentes que estão a elas disponíveis, ouvindo e observando as crianças, levando a sério suas ideias e teorias, mas também preparando para desafiar, tanto sob a forma de novas questões, informações e discussões como sob a forma de novos materiais e novas técnicas.
O papel também requer que o pedagogo seja visto como pesquisador e pensador, um profissional reflexivo que procura aprofundar seu entendimento sobre o que está acontecendo e da maneira como as crianças aprendem, através da documentação, do diálogo, da reflexão crítica e da desconstrução.”
Malaguzzi, 1993b; Rinaldi, 1993
Assim, é fundamental que você ocupe e se aproprie do seu fazer de professora bilíngue da infância, como uma profissional reflexiva, competente e que está nesta posição por escolha. Você merece estar profissionalmente na posição em que deseja, e suas crianças também!

