Imagine que lindo você trabalhar em uma escola com múltiplos espaços que funcionam como salas externas, com propósitos diferentes, não só de desenvolvimento motor, mas também de desenvolvimento de outra língua de expressão! Isso certamente ajudaria você a sair mais da sua sala de aula, não é? Mas infelizmente essa não é uma realidade comum. Muitas escolas bilíngues, sobretudo nas cidades grandes, têm pouco espaço externo, que muitas vezes é usado como playground comum – como em qualquer parque público, ou sequer tem esse luxo, e são locais emparedados, com pouca luz do sol. E aí? Como sair da sala nessas situações?
Nesses casos em que os espaços externos são poucos, ou em casos com muitos espaços externos mas em que se trabalha entre as paredes e teto, e mesmo até pensando nos lugares em que o clima é de extremos, muito calor, chuva, sol extremamente forte durante o dia etc., precisamos repensar o uso dos espaços coletivos DENTRO da escola mesmo. Veja o que António Nóvoa disse no início de 2023 e que tem tudo a ver com nosso artigo:
“Os novos ambientes educativos têm que ser mais abertos, mais diversos, com trabalhos de grupo, trabalhos individuais, onde acontecem coisas muito diversas no mesmo espaço.”
Então, vamos explorar algumas ideias de como usar os espaços coletivos para além do que aparentam ser ou usar o mesmo espaço para “coisas muito diversas”. Por exemplo, usar a sala de artes para experimentos de ciência ou trabalhos específicos de coordenação motora fina, usar a sala de música ou a sala de leitura para trabalhar contagem e situações-problema e criação de narrativas em grupos grandes ou pequenos. O playground pode ser usado como um lugar de desenho de observação ou arte processual, o refeitório para criar listas – ou textos coletivos – ou experimentar sons diferentes com as panelas ou formas de pouco uso! A sala de leitura (dependendo do formato) como um lugar de piquenique para escutar uma boa história ou contação enquanto desfruta da comida gostosa, enfim, muitas possibilidades para usos criativos para os espaços coletivos da escola.
Agora, não estou falando de combinar tinta com instrumentos musicais ou livros, tá? Cada espaço também tem seu uso apropriado com materiais e procedimentos únicos. E tenho uma ressalva sobre o local que deve se manter somente para a sua finalidade: o local de soneca dos pequenos. A última coisa que as professoras e as crianças precisam é que um lugar estabelecido para dar sono na criança vire um lugar de altos estímulos. Se você nunca tentou colocar 10 crianças pequenas para dormir num horário estipulado pela escola e não pelo corpo de cada uma, você precisa acreditar em mim! Esse lugar precisa ser sagrado!


Outra coisa para lembrar antes de ir transformando os espaços coletivos com os novos propósitos é respeitar os procedimentos que aquele espaço de convivência social demanda ou que a professora especialista colocou (ex.: onde as crianças ou professoras titulares podem mexer, como sentar nas cadeiras ou no espaço, como manipular os aparelhos ou utensílios da sala corretamente). Uma boa conversa e alinhamento são necessários com o “dono” daquela sala. E, se não tiver esses procedimentos de espaços coletivos ou se esse lugar não tem “dono”, eu garanto que as professoras já estão tendo muitos conflitos de gerenciamento dos espaços pela falta de consistência nos procedimentos da escola. Os problemas vão de professoras deixando material e a outra turma não pode usar o espaço porque “foi deixada uma bagunça” a material estragado pelo mau uso (e, se não tiver direcionamento de uso, o que é mau uso?).
Então, antes de transformar os espaços para os vários propósitos pedagógicos que um espaço pode ter, um alinhamento de procedimentos de uso dos espaços coletivos é primordial.
E, por último, como usar os espaços coletivos se você não sabe o que está acontecendo naquele espaço ou quem quer também usar num horário que está sem turma prevista? Cada professora precisa saber o que está acontecendo naqueles espaços a qualquer momento do dia, quando estão livres ou ocupados pela escola ou pelas especialistas. A escola precisa estabelecer um sistema eficiente e em real-time para viabilizar o uso dos espaços coletivos por mais momentos. Se você é coordenadora ou diretora, seguem algumas dicas de como estimular o uso de espaços coletivos na escola aqui neste texto. E se você é professora e sua escola não tem esses procedimentos, mande este artigo para sua coordenadora! Vamos nos ajudar!
Anyway, as possibilidades de uso dos espaços coletivos para “coisas muito diversas” são infinitas – sua criatividade é o limite. Então, enquanto você pensa no planejamento da semana, aproveite para refletir: onde eu poderia fazer a mesma coisa, ou uma versão da mesma coisa, num outro ambiente dentro da escola? E o que eu preciso fazer para realizar essa mudança?
Assim, cada vez mais, o normal será pensar fora da caixa, literalmente. O único jeito de começar a ir para a academia é… ir para a academia, o único jeito de começar a tomar café da manhã em vez de pular essa refeição importante é… tomar café da manhã e o único jeito de sair da sala é… começar a sair da sala. So… let’s do it!