As crianças devem andar em fila ou podem ir espalhadas? Tem certo ou errado?
Não! O que tem é função social e, depois, a realidade do contexto local.
Quando pensamos em preparar crianças para o convívio social harmonioso, o que eu diria é a nossa prioridade #1 educacional, precisamos sempre pensar o que é a função social real daquele conhecimento ou habilidade para escolher a melhor prática para ensiná-lo. Então, se a sua escola tem escadas, não importa o que a sua turma CONSEGUE fazer, e sim o que DEVE fazer naquele mesmo contexto fora do ambiente escolar. Por exemplo, para aprender a usar as escadas em qualquer lugar do Brasil, é importante que as crianças saibam segurar no corrimão do lado direito, pois têm a possibilidade de se segurarem caso se desequilibrem. Além disso, elas devem subir, uma por vez, tendo um espaço entre seu colega de sala na frente, para que ela e a pessoa na frente (e a pessoa do lado descendo) não tropecem nas escadas e todos consigam chegar ao seu destino com segurança.
Isso é pensar na função social do uso das escadas na sociedade brasileira. Então, mesmo se sua turma tem mini atletas que conseguem subir escadas pulando e não se machucam, como isso as ajuda na rua, no hospital, no aeroporto, no transporte coletivo e em outros lugares? Saber subir escadas não só garante que as crianças o façam com segurança para si mesmas e aos outros, mas também consigam andar em ambientes coletivos tendo um convívio social mais harmonioso – para a vida.
Então, ao escolher como você vai levar sua turma a transitar entre os espaços na escola, sempre tenha em mente a função social.
Antes das dicas, mais uma ressalva, o formato e funcionamento da sua escola determina as melhores práticas para levar as crianças de um lugar para o outro. Então, se você trabalha numa escola onde só tenha a Educação Infantil no prédio e tudo foi planejado para crianças pequenas, é bem diferente de uma realidade em que a Educação Infantil é um espaço à parte de todos os segmentos, e, para ir ao refeitório ou sala de artes, as crianças precisam transitar em locais que não foram pensados ou planejados para crianças pequenas (ex.: cantos sem proteção, tomadas ou fios expostos ou de fácil acesso, adolescentes andando e talvez sem noção de como conviver com crianças pequenas etc.).
Outra diferença gritante entre escolas é a largura dos corredores. Em algumas, eles são bem estreitos, o que demanda que as turmas andem em filas para que duas turmas transitem no mesmo corredor ao mesmo tempo. Outras escolas têm corredores largos, outras nem têm corredores porque cada turma tem uma casinha própria em que professoras podem andar com suas turmas em grupo – como uma família faria – sem impacto negativo aos outros grupos. Existem escolas com isolamento de som e as crianças nos corredores podem cantar ou conversar enquanto andam. Em algumas escolas, se uma pessoa conversar em tom normal, atrapalha o andamento de todas as salas por onde essa turma transitar.
Isso dito, qual é a realidade da sua escola? Quais são as necessidades que você precisa atender antes de escolher uma boa prática de locomoção para sua turma?
Então, sabendo a função social e o seu contexto local, seguem algumas dicas de como locomover as crianças de um lugar para o outro:
- Cantar para as crianças. Quando a professora canta, acalma as crianças (boa prática para crianças bem pequenas). Transitar da sala de aula para fora pode ser assustador para crianças bem pequenas e para aquelas que não falam ainda, usar a estratégia do canto, uma música de que elas gostam e com a qual se acalmam durante a trajetória pode dar a segurança que elas precisam para focar em andar e seguir sua voz.
- Chants. Quando as crianças ainda curtem canto ou uma fala rítmica, escolha uma música ou chant e vá cantando pelos corredores com elas. Segue um link com alguns exemplos que você pode experimentar.
- Handmotions. Para quando mexer as mãos já não atrapalha o movimento dos pés! Escolher uma série de batidas ou handclapping patterns que podem ser feitos com palavras ou sem (de novo, depende do seu contexto), pode ser um ótimo momento para ir de um lugar para o outro e até focando em habilidades motoras, like clapping or snapping! Cada criança pode desenvolver um “pattern do dia”, eles podem praticar algumas vezes em sala, e aí fazer ao longo do caminhar. Segue um vídeo com movimentos e vocabulário para dar algumas ideias!
- Observar. Quando as crianças conseguem andar e prestar atenção em algo previamente combinado. Por exemplo, você faz uma pergunta para sua turma antes de sair da sua sala. “Enquanto vocês andam pela escola, prestem atenção… (nos objetos com amarelo, se encontra alguém lendo um livro, se existem animais na escola etc.) e me falem quando chegarmos na sala.”
- Contar. Novamente, quando as crianças conseguem andar e prestar atenção em algo previamente combinado. Por exemplo, você propõe um desafio para sua turma antes de sair da sua sala. “Enquanto vocês andam pela escola, quero que vocês contem na sua cabeça ou nos dedos… (quantas portas estão abertas/fechadas, pessoas que passaram por você, quantos adultos que viu, quantos pássaros nas árvores etc.) e, quando a gente chegar na sala de X, vou perguntar quantos você contou.”
Se essas situações acontecem em fila, em pequenos grupos ou andando como uma grande família pela escola, depende dos filtros que colocamos lá em cima, pois, ao transitar, deve ser seguro e respeitoso para todos os envolvidos, inclusive para você, professora! Então, se um dia você fizer uma saída pedagógica com sua turma, e você consegue contar as crianças de forma mais rápida e eficiente com todas elas em fila, guess what? Put them in a line! A segurança é a prioridade nessa situação! O nosso contexto determina quais práticas usamos no dia a dia, por isso, é fundamental ter uma mochila cheia de práticas diferentes!

