Ensinar em um contexto bilíngue não é nada fácil. Existe uma pressão para que as crianças produzam oralmente, sejam alfabetizadas e possam compreender tudo ou muita coisa na língua adicional após pouco exposição e trabalho. No entanto, as Diretrizes que regulamentam a educação bilíngue são muito claras: a escola bilíngue precisa cumprir a BNCC. Mas a BNCC não fala nada sobre segunda língua, e agora?


O trabalho de uma professora bilíngue não é apenas ensinar uma língua adicional, mas, sem ensinar um idioma, como estar em um ambiente bilíngue?
Para desatar esse nó, vamos começar a pensar o seguinte: temos uma base curricular para atender e isso quer dizer que a gente não pode limitar o ensino ao idioma. E essa ideia está perfeitamente alinhada ao bilinguismo. No bilinguismo, não devemos entender a língua como um componente curricular, como um instrumento isolado. Devemos sim entender a língua como uma ampliação da forma de comunicação e expressão, pensando o bilinguismo como um movimento de expansão do mundo da criança.
Pensando dessa forma, vamos entender que precisamos de boas práticas pedagógicas que nos permitam trazer o idioma em movimento real, com função de comunicação e expressão, com contexto. Vamos olhar alguns objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da BNCC e pensar como eles poderiam acontecer em contextos bilíngues.
Objetivos de Aprendizagem
(EI02CG03) Explorar formas de deslocamento no espaço (pular, saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo orientações.
Para a segunda parte desse objetivo, podemos pensar em muitas brincadeiras clássicas que já incorporamos em nosso dia a dia, como “Simon Says”. No entanto, aqui é importante perceber que existe uma etapa anterior, uma etapa extra, se a gente for comparar com “O mestre mandou”. É preciso garantir que as crianças conheçam as palavras que nomeiam as ações, então você precisa planejar antes esse momento estruturado de apresentação de vocabulário. Você pode usar TPR (total physical response), pode modelar a ação, pode mostrar fotos delas fazendo as ações, pode mostrar um boneco etc. Mas é importante garantir que as crianças tenham o repertório linguístico receptivo que precisam para seguir suas orientações. Dessa forma, combinamos o cumprimento da BNCC e do ensino de língua.


Cumprimento da BNCC e do ensino de Língua
(EI03EF02) Inventar brincadeiras cantadas, poemas e canções, criando rimas, aliterações e ritmos.
Aqui temos um exemplo de objetivo que pede produção oral das crianças. Novamente, você vai precisar de momentos estruturados de ensino de língua para que depois as crianças possam brincar livremente com os sons. Por exemplo, você pode propor uma brincadeira de inventar novos versos para uma canção já conhecida em inglês “I like to eat apples and bananas”, mas, antes disso, já deve ter apresentado e consolidado o vocabulário sobre frutas, garantindo que as crianças terão repertório para criar algo novo.
Com esses dois exemplos, podemos perceber como é importante alternar momentos estruturados de ensino da língua e momentos de uso natural para comunicação e expressão. Para ampliar seu repertório em práticas pedagógicas bilíngues, conheça nosso curso!
Como as crianças aprendem Inglês
Crianças não aprendem a falar inglês só porque a professora está falando com elas em inglês, é preciso haver planejamento, altas expectativas e intencionalidade para que a gente alcance resultados na forma de produção oral das crianças.
Tampouco podemos focar somente no ensino de uma língua descontextualizada do cotidiano e dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento trazidos pela BNCC. Educação bilíngue de qualidade é isso, formação e desenvolvimento integral da criança! A criança e suas cem linguagens como o próprio Malaguzzi coloca, com a língua adicional sendo mais uma delas!

