O resultado de procedimentos consistentes é estabilidade, tranquilidade e produtividade para as crianças, as professoras e a equipe escolar – tanto na sala de aula quanto na escola como um todo. E quem não quer um ambiente positivo assim?
Mas e quando uma sala pode fazer alguma coisa e a outra sala não pode – na mesma escola? Quando uma sala pode usar a biblioteca como sala de leitura compartilhada e falar em voz alta e a outra sala tem uma professora que demanda silêncio no ambiente? Quando uma sala pode escalar o brinquedão por fora e a outra sala não pode?
Ou quando uma criança dentro da mesma sala pode fazer algo e a criança do lado não pode? Sem regras e procedimentos claros e implementados de maneira consistente a quebra da confiança das crianças garante atitudes desafiadoras e de teste de limites constante. Pronto! É só implementar as regras de maneira consistente e igual para todos, certo?
Nem tanto
Se fizermos isso, entramos na falácia do tratamento por IGUALDADE. “Mas, afinal, igualdade não é o que queremos?” Not really. Porque se existe uma regra numa determinada escola que as crianças não podem andar em cima do muro do refeitório (por questões de segurança, claro) e a consequência de fazer isso é ter que andar de mão dada com a professora (se for uma criança pequena) toda vez que vai ao refeitório ou ajuda na limpeza do refeitório durante o parque da criança (se for uma criança mais velha) – e a criança grande andar em cima do muro, cair e quebrar os dois braços, você vai pedir para ele ajudar a limpar o refeitório depois de voltar da licença médica? Se você pedir para ele voltar e limpar o refeitório, você estará zelando pela IGUALDADE.
Ou se uma criança pequena (ou grande) acabou de perder seu cachorro e, na hora de guardar os brinquedos após o momento de acolhimento para ir sentar na roda, ela não guardou e não larga de um bicho de pelúcia de cachorro, você vai mandá-la guardar porque tem uma regra de sala que não pode ter nada na mão na roda? Se você mandá-la guardar o animal, você estará implementando IGUALDADE.
A escola que zela pela IGUALDADE almeja que as consequências dos comportamentos das crianças sejam as mesmas para todos – sem importar a necessidade da criança naquele momento ou pelo que ela passou.
Mas, isso é JUSTO?
Se você está pensando agora “bom, se eu mudar esse jeito, as crianças vão achar que tudo é injusto e entender que a escola não tem regras e procedimentos claros e quebrarão a confiança delas na escola gerando atitudes desafiadoras e de teste de limites constantes!”
Sim, você está certa – a não ser que você primeiro explique a diferença – desde pequeno – entre igualdade e EQUIDADE e abra momentos de conversa com as crianças. E lembre-se de que as crianças estão obervando como as regras e leis fora da escola – em casa e na sociedade – funcionam.
Criança: “Por que a pessoa entrou na nossa frente na fila? Nós chegamos primeiro! Alguém vai avisá-la?”
Mãe: “Não, filha. Ela é uma mulher grávida, você está vendo a barriga dela? É muito pesado para ela andar e ficar muito de pé, então ela tem o que a gente chama de ‘prioridade’. Ela pode passar na nossa frente. Eu também passei na frente de pessoas quando você estava na minha barriga, e me ajudou muito.”
No mundo dos adultos, existem regras e as crianças devem aprender que regras são para todos, mas existem brechas nas leis e regras sociais. Os adultos podem até recorrer a multas recebidas, podem entrar com atestados, liminares, apelos e outros recursos para mostrar que a regra não poderá ser aplicada a uma situação e que ela tem uma necessidade diferente.
Na escola, nós precisamos perceber quais são as necessidades de nossas crianças e conversar com elas como um grupo sobre as diferenças em relação ao que cada um precisa. Mas, isso significa que não vai haver regras e combinados para todos? De jeito nenhum! Regras, procedimentos e combinados aplicados de maneira consistente são essenciais para a criança confiar e sentir-se segura no local – até que a regra, procedimento ou combinado infringe a necessidade de uma criança – aí entra a EQUIDADE.
Ensinar as crianças desde pequenas que “igualdade é dar o mesmo ou fazer o mesmo para todos” e “equidade é dar ou fazer o que cada pessoa precisa para alcançar o mesmo objetivo” vai ajudá-las a entrar numa sociedade com grupos e pessoas com diversas necessidades e habilidades.
A escola que zela pela EQUIDADE almeja que as consequências dos comportamentos das crianças sejam baseadas nas necessidades que um grupo de crianças ou o que uma criança precisa para aprender – dialogando com todos envolvidos no processo.
Na escola que zela pela EQUIDADE, a coordenadora pedagógica, junto com sua equipe, ESTABELECE REGRAS SIM! Pode ser por ano escolar ou segmento, pensando nos espaços coletivos, baseando-se no desenvolvimento social, cognitivo e físico daquelas crianças e conversando com sua equipe sobre a importância de uma implementação consistente e, quando alguma situação impede a implementação, que as crianças entendam o porquê.
Uma escola que zela pela EQUIDADE deve, por exemplo, ter uma professora que mostre ao seu grupo de crianças do 5° ano que reclama com a professora sobre o barulho de Toddlers na biblioteca a importância da empatia com as crianças, mostrando as necessidades diferentes da faixa etária.
Quando um grupo de crianças de 4 anos presencia um grupo de crianças maiores subindo no briquedão por fora, que é algo que a professora daquele grupo não permite, é importante falar sobre a autonomia que se ganha quando o corpo das crianças de 4 anos crescem – “not yet, but one day you can too”.
Outro exemplo: uma criança de 3 anos está mais sensível porque seus pais estão viajando e você a deixou sentar no seu colo na roda – algo que normalmente não ocorre e você conta para o grupo que hoje ela está um pouco triste e precisa de mais abraços. Você está mostrando empatia, ensinando que pessoas têm necessidades diferentes, em momentos diferentes, e que temos que ajudar uns aos outros no que precisam.
E a sua escola? As regras e combinados estão implementados pensando na IGUALDADE ou EQUIDADE?
Quer um vídeo que explica de maneira fácil para suas crianças a diferença entre igualdade e equidade? Clique aqui para assistir ao exemplo do uso de óculos e clique aqui para o exemplo de arremesar uma bola de basquete!
Mas, para nós, essa imagem mostra tudo! É bem explicativa e mostra o que são essas palavras de forma fácil:
Feito por Tony Ruth e Avinash Kaushik, e inspirado no livro “The Giving Tree”, de Shel Silverstein.

