Sim, foi isso mesmo que você leu!
Quem nunca passou por essa situação antes: você faz um planejamento maravilhoso, cada minuto preenchido por atividades e propostas criativas, pensando nos objetivos, materiais, grupos, tempos, espaços, uma coisa linda! A segunda-feira começa, você abraça o planejamento e vai! Só que, quando a sexta-feira termina, você olha para trás e percebe que as crianças foram ficando pelo caminho… Será que vale a pena cumprir um planejamento perfeito e chegar à sexta-feira só você e ele de mãos dadas?
Do outro lado, todas nós já tivemos uma semana completamente caótica, que entramos em sala com uma sensação de “o que é que eu tenho que fazer hoje mesmo?”. Aí também não dá, e certamente não é sobre isso que estamos falando.


O que estamos propondo aqui é fazer sim um planejamento consistente, mas também que permita momentos de flexibilidade, ou seja, um planejamento que garanta espaço para respiro e permita que a voz das crianças seja ouvida.
Buracos permitem criatividade, imaginação, negociação, flexibilidade e centralidade para a trajetória do grupo e de cada criança.
Então, como saber a melhor forma de deixar buracos no planejamento?
Se você é uma professora especialista e tem aulas de menos de uma hora, você pode pensar em deixar “momentos coringa”. São propostas que podem ou não acontecer, dependendo do que sua turma está indicando. Os coringas podem ser feitos em qualquer dia dentro de um intervalo de tempo, então você cria um pequeno set de coringa e usa quando precisar. Assim, você pode sempre planejar para alguns minutos a menos do que o tempo da sua aula e usar o coringa se for necessário. Dessa forma, você garante que vai poder esticar uma conversa que está sendo proveitosa ou revisar algo que sentir necessidade, sem ter a sensação de que “furou” seu planejamento.


Para quem está em um programa bilíngue mais robusto e tem mais horas por dia com as crianças, os buracos podem ser ainda maiores: você pode planejar propostas que precisam acontecer em um determinado dia da semana e outras que podem acontecer a qualquer momento, dependendo da sua leitura do grupo. Por exemplo, um desenho de observação, uma exploração de algum material, uma conversa sobre uma leitura, uma brincadeira mais agitada, tudo isso pode ser adequado dependendo da energia do seu grupo: eles precisam de um settler ou um stirrer? E se algumas crianças indicam já terem concluído um processo e uma parte do grupo quer continuar? Que tal ter no seu planejamento os coringas que podem ser usados nesses momentos?
Deixar um buraco na sexta também pode ser uma oportunidade para retomar, refazer, terminar ou deixá-los escolher algo que aconteceu na semana. Talvez escolher uma boa pergunta ou observação para ser investigada, um momento de fortalecimento de coletividade, um relaxamento… são muitas possibilidades, o importante é perceber que o planejamento é um documento vivo e ele se adapta ao grupo, e não o contrário!
Para terminar, tenha calma! Se você costuma fazer um planejamento minutado, não saia esburacando a partir de amanhã! Comece com um buraquinho na sexta, e, a cada duas semanas, você pode ir incorporando mais momentos de flexibilidade. E lembre: um planejamento com buracos não é um planejamento furado!